O Umbral: um paralelo entre André Luiz e a Codificação Espírita.

O Umbral: um paralelo entre André Luiz e a Codificação Espírita.

Escrito por Marcelo Firmino Dias e Raul Franzolin Neto

  1. O Umbral em Nosso Lar

O Umbral foi descrito na obra Nosso Lar de André Luiz, psicografado pelo médium Chico Xavier, e tem gerado indagações sobre sua coerência doutrinária espírita. André Luiz manifesta sua surpresa sobre o Umbral no Capítulo 12 de livro, logo no primeiro parágrafo:

“A ausência de preparação religiosa, no mundo, dá motivo a dolorosas perturbações. Que seria o Umbral? Conhecia, apenas, a ideia do inferno e do purgatório, através dos sermões ouvidos nas cerimônias católico-romanas a que assistira, obedecendo a preceitos protocolares. Desse Umbral, porém, nunca tivera notícias”.

É o Espírito Lísias que o esclarece inicialmente:

“O Umbral – continuou ele, solícito – começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos”.

Percebe-se aqui que o conceito abrange aspectos que vão além de um lugar circunscrito ou determinado no mundo espiritual para além do mundo físico, propriamente dito.

Lísias continua suas explicações para André Luiz, definindo o Umbral:

“O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra. Concentra-se, aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior. E note você que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta. Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis vibratórias”.

É justamente nesse ponto que alguns críticos se demoram em analisar e refutar a hipótese em estudo, o Umbral. Para tanto, trazem a lume em resposta à Pergunta 1012 de O Livro dos Espíritos (O.L.E.), versando sobre o Paraíso, Inferno e Purgatório:

1012. Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos segundo seus merecimentos?

“Já respondemos a esta pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa. Quanto aos encarnados, esses são mais ou menos felizes ou desgraçados, conforme é mais ou menos adiantado o mundo em que habitam.” 

Allan Kardec: – De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina? 

“São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e inditosos. Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos. 

A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender “.

Com base nessa resposta, críticos dizem que o Umbral é um lugar circunscrito, portanto, uma invenção de André Luiz/Chico Xavier, sendo um erro doutrinário.

Convém ressaltar que Lísias em Nosso Lar, confirma a informação acima “…os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia, mas podem se reunir onde queiram, quando são perfeitos.”, ao esclarecer André Luiz sobre o Umbral:

“…Não é de se estranhar, portanto, que semelhantes lugares se caracterizem por grandes perturbações. Lá vivem, agrupam-se os revoltados de toda espécie. Formam, igualmente, núcleos invisíveis de notável poder, pela concentração das tendências e desejos gerais final”.

Assim, os Espíritos na codificação não deram detalhes sobre como, onde e por quanto tempo os Espíritos se reúnem por afinidades.

Para comparar a resposta do Espírito Verdade na pergunta 1012 de O.L.E. com a descrição de Umbral, é necessário lembrar que o tópico em análise nas perguntas e respostas no primeiro é Paraíso, Inferno e Purgatório, portanto, é absolutamente correto dizer que esses lugares não existem circunscritos, como consequência de penalidades eternas às almas que pecaram, porque aí está o sentido pagão, católico e protestante, não o sentido dado às recompensas, penas e consolações pelo Espiritismo, que tem o Inferno e o purgatório como processos transitórios na evolução do Espírito e o Paraíso/Céu como um estado de alma. Isto fica ainda mais claro ao comparar o conceito de Umbral com a resposta à seguinte pergunta:

1013. Que se deve entender por purgatório?

“Dores físicas e morais: o tempo da expiação. Quase sempre, na Terra é que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos obriga a expiar as vossas faltas.

O que o homem chama purgatório é igualmente uma alegoria, devendo-se entender como tal, não um lugar determinado, porém, o estado dos Espíritos imperfeitos que se acham em expiação até alcançarem a purificação completa, que os levará à categoria dos Espíritos bem-aventurados. Operando-se essa purificação por meio das diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corporal”.

2. Onde permanecem e como vivem os Espíritos no mundo espiritual?

Em O Livro dos Espíritos encontramos o conceito de Erraticidade como sendo o estado de um Espírito vivendo num intervalo entre uma encarnação e outra. Na questão 226, Kardec diz que no tocante ao estado, os Espíritos podem ser: Encarnados, ou seja, ligados a um corpo físico; Errantes, ou desligado do corpo material aguardando um nova encarnação; Espíritos Puros ou Perfeitos, aqueles que não têm mais necessidades de encarnação.

Entretanto, isso não esclarece com detalhes onde e como ficam os Espíritos. É coerente que busquemos estudar e aprofundar a compreensão sobre esse tema de grande interesse, já que não existem lugares eternos e circunscritos como inferno, purgatório ou céu. Como dizem os Espíritos superiores, abaixo, acima e dos lados existe o Universo e seus astros.

Relevante informação a esse respeito, podemos obter no mesmo O.L.E. em Mundos Transitórios. O que são eles? Vejamos a resposta a esse respeito na questão 234:

“Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que eles podem habitar temporariamente, espécies de acampamentos, de lugares em que possam repousar de erraticidade muito longas, que são sempre um pouco penosas. São posições intermediárias entre os outros mundos, graduadas de acordo com a natureza dos Espíritos que podem atingi-los e que neles gozam de maior ou menor bem-estar”.

O que seriam esses mundos temporários, ou espécies de acampamentos? André Luiz descreve a colônia espiritual Nosso Lar como sendo um local de vida espiritual com maior bem-estar e, por outro lado, o umbral como sendo um local de menor bem-estar. Ressaltando que são sempre um pouco penosas.

Assim, a pergunta crucial é: Como e onde vivem os Espíritos de todos os níveis evolutivos?

É muito importante considerar que a vida do Espírito é uma só, embora ele tenha diferentes experiências em corpos diferentes. Cada planeta tem um lugar circunscrito no Universo, servindo de morada aos Espíritos adaptados a ele, estejam encanados ou desencarnados, conforme esclarecimento em O.L.E:

57. Não sendo uma só para todos a constituição física dos mundos, seguir-se-á tenham organizações diferentes os seres que os habitam?

“Sem dúvida, do mesmo modo que no vosso os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar”.

Na erraticidade vivem Espíritos dos mais diversos graus evolutivos até atingirem o estado de Espírito Puro. Esse é o estado normal do Espírito, ou seja, livre da matéria. A encarnação é um estado transitório, de acordo com O.L.E, questão 225.

O estado evolutivo do Espírito se torna fundamental para o entendimento da vida espiritual. Quanto mais inferior for o Espírito, mais ligado às condições materiais eles se encontram, em função da ação influenciadora do fluido semimaterial ou semiespiritual, o perispírito. Determinadas regiões estariam circunscritas aos mundos materiais mais inferiores. Quanto a isso, podemos nos referir a uma bela explicação sobre o possível conhecimento do futuro pelos Espíritos, na seguinte passagem publicada no Livro A Gênese, Os milagres e as predições segundo o espiritismo de Allan Kardec, Capítulo XVI – Teoria da presciência

“… Se sairmos agora do círculo das coisas puramente materiais e se entrarmos, pelo pensamento, no domínio da vida espiritual, veremos esse fenômeno se produzir em uma escala maior. Os espíritos desmaterializados são como o homem da montanha: para eles, o espaço e a duração desaparecem. Mas a extensão e a penetração de sua visão são proporcionais a sua pureza e à sua hierarquia espiritual. Eles são, relativamente aos espíritos inferiores, como o homem provido de um poderoso telescópio, ao lado daqueles que dispõem apenas dos olhos. Entre esses últimos a visão é circunscrita, não apenas porque só podem dificilmente se distanciar do globo (mundo) ao qual são vinculados, mas porque a imperfeição de seu perispírito viola as coisas, como o faz um nevoeiro para os olhos do corpo”.

Na Codificação encontramos informações gerais sobre a vida espiritual, os Espíritos não fizeram referências detalhadas sobre a erraticidade. A obra de Chico Xavier é o maior repositório de exemplos da vida dos Espíritos na erraticidade. Ao analisar os paralelos dessa obra com as informações da codificação, devemos não descuidar do fato anunciado pelo próprio Allan Kardec de que sua obra se constituía dos princípios gerais sobre o assunto, deixando antever que muitas outras informações viriam com o tempo.

O Espírito Verdade ao responder na questão 1012 se haveria de lugares circunscritos e determinados para os Espíritos destinados às penas, como o Inferno e o Purgatório, e aos gozos como o Paraíso para os Anjos, informou que não, pois isso refere-se ao estado de alma de cada um.

No Livro Nosso Lar, Capítulo 12, continua Lísias:

“Quem pensa, está fazendo alguma coisa alhures. E é pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um. Toda alma é um ímã poderoso. Há uma extensa humanidade invisível, que se segue à humanidade visível”.

Há coerência na informação, tendo o princípio da afinidade entre os Espíritos e a realidade da interação entre encarnados e desencarnados pelo mecanismo da mente e da mediunidade, reunidos em seus respectivos habitats.

A leitura e interpretação correta de que os Espíritos se referiam a não haver lugares circunscritos em relação ao Inferno, Céu e Purgatório é fundamental para entender que não há divergência nesse ponto com o que diz André Luiz em relação ao Umbral.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, estudando a progressão dos Espíritos e dos mundos, bem como suas moradas, Allan Kardec nos trouxe a informação de que os mundos são classificados como: 1. Primitivos; 2. Provas e Expiação; 3. Regeneração; 4. Felizes e 5. Celestes ou Divinos, sendo cada planeta ou mundo compatível com o grau de evolução dos Espíritos que os habitam. Portanto, cada lugar é circunscrito e determinado, sem constituir um local eternamente destinado aos pecadores ou, no caso do Céu, circunscrito e destinado aos anjos, como compreendem os pagãos, católicos e protestantes. Conforme mencionado, os Espíritos puros podem se locomover a qualquer lugar do Universo, enquanto os Espíritos imperfeitos reúnem-se por afinidade em lugares e regiões afins, mas também não permanentes ou circunscritos a um planeta, podendo ser em planetas diferentes, contudo, compatíveis com a evolução desses Espíritos.

3. Situações cotidianas em Nosso Lar

Questiona-se ainda que André Luiz narra situações cotidianas dos Espíritos com objetos, casas, cidades e vilas, em tudo muito semelhante aos ambientes vividos na Terra.

Vejamos em O Livro dos Espíritos como convivem os Espíritos sofredores com seus anjos de guarda ou protetores e familiares:

976. O espetáculo dos sofrimentos dos Espíritos inferiores não constitui, para os bons, uma causa de aflição e, nesse caso, que fica sendo a felicidade deles, se é assim perturbada?

“Não constitui motivo de aflição, pois que sabem que o mal terá fim. Auxiliam os outros a se melhorarem e lhes estendem as mãos. Essa a ocupação deles, ocupação que lhes proporciona gozo quando são bem-sucedidos”.

976 – a) – Isto se concebe da parte de Espíritos estranhos ou indiferentes. Mas o espetáculo das tristezas e dos sofrimentos daqueles a quem amaram na Terra não lhes perturba a felicidade?

“Se não vissem esses sofrimentos, é que eles vos seriam estranhos depois da morte.

Ora, a religião vos diz que as almas vos veem. Mas, eles consideram de outro ponto de vista os vossos sofrimentos. Sabem que estes são úteis ao vosso progresso, se os suportardes com resignação. Afligem-se, portanto, muito mais com a falta de ânimo que vos retarda, do que com os sofrimentos considerados em si mesmos, todos passageiros”.

Portanto, as narrativas socorristas feitas por André Luiz são compatíveis com as respostas dos Espíritos obtidas por Kardec.

4. A semelhança de objetos e modo de vida na Erraticidade.

Em vão tentaríamos resolver esse problema sem recorrer aos Espíritos e aos médiuns clarividentes, sonambúlicos ou de desdobramento e aos videntes, além das Experiências de Quase Morte (EQM). Sem isso todo esforço seria vão e fruto de uma imaginação prodigiosa, contudo, destituída de fatos e critérios mínimos de análise, não para se constituírem postulados científicos humanos, ainda, mas sim para constituírem preceitos filosóficos espíritas, até que as pesquisas científicas os comprovassem.

O bom é que não precisaremos pesquisar muito. Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec reuniu extensa coleção de exemplos e informações sobre o assunto, notadamente no Capítulo VIII – Do laboratório do mundo invisível- onde são tratados os seguintes tópicos: • Vestuário dos Espíritos • Formação espontânea de objetos tangíveis • Modificação das propriedades da matéria • Ação magnética curadora. Vejamos:

126. “Temos dito que os Espíritos se apresentam vestidos de túnicas, envoltos em largos panos, ou mesmo com os trajes que usavam em vida. O envolvimento em panos parece costume geral no mundo dos Espíritos. Mas, onde irão eles buscar vestuários semelhantes em tudo aos que traziam quando vivos, com todos os acessórios que os completavam? É fora de qualquer dúvida que não levaram consigo esses objetos, pois que os objetos reais temo-los ainda sob as vistas. Donde então provêm os de que usam no outro mundo?”

Logo se vê que Kardec e os espíritas de seu tempo levantavam perguntas semelhantes às nossas. O Mestre Codificador sempre utilizou o bom senso e uma metodologia definida para obter as respostas que procurava, entretanto, muitos hoje não conseguem seguir um critério científico necessário. Continuando no mesmo Capítulo VIII:

126 – “Esta questão deu sempre muito que pensar. Para muitas pessoas, porém, era simples motivo de curiosidade. A ocorrência, todavia, confirmava uma questão de princípio, de grande importância, porquanto sua solução nos fez entrever uma lei geral, que também encontra aplicação no nosso mundo corpóreo. (…)Poderíamos citar grande número de casos em que Espíritos, de mortos ou de vivos, apareceram com diversos objetos, tais como bengalas, armas, cachimbos, lanternas, livros etc”.

128. Foi o Espírito São Luís quem nos deu essa solução, mediante as respostas seguintes: (…)

Pergunta 15ª – Têm todos os Espíritos, no mesmo grau, o poder de produzir objetos tangíveis?  

“É fora de dúvida que quanto mais elevado é o Espírito, tanto mais facilmente o consegue. Porém, ainda aqui, tudo depende das circunstâncias. Desse poder também podem dispor os Espíritos inferiores”.

Pergunta 16ª – O Espírito tem sempre o conhecimento exato do modo por que compõe suas vestes, ou os objetos cuja aparência ele faz visível? 

“Não; muitas vezes concorre para a formação de todas essas coisas, praticando um ato instintivo, que ele próprio não compreende, se já não estiver bastante esclarecido para isso”.

Neste Capítulo de O Livro dos Médiuns, Kardec descortina como os Espíritos criam suas aparências e objetos com os quais aparecem e influenciam os humanos, bem como se relacionam entre si, a partir da vontade, da intenção e do períspirito, e mesmo sem adentrar como isso serve aos seus propósitos na vida em sociedade na erraticidade, oferece a chave para compreender e esclarecer muitos relatos do cotidiano nos umbrais e nas cidades do Além, bem como eles podem criar lugares, objetos, vestes etc.

5. Organização da vida em sociedade no mundo espiritual

O Capítulo VIII de O Livro dos Médiuns esclarece inúmeras questões sobre a organização da vida em sociedade no mundo espiritual, como dedução sobre o uso, pelos Espíritos, do poder de criar a partir do fluído cósmico universal, todas as coisas de que precisem, muitas delas inimagináveis para nós encarnados, mas que fazem muito sentido quando se observa os relatos da vida no mundo espiritual, tanto por André Luiz, quanto por outros Espíritos, por Chico Xavier ou não. Diz Kardec no Item 128 – Cap. VIII:

“- 13ª Então, poderia também fazer uma substância alimentar? Suponhamos que tenha feito uma fruta, uma iguaria qualquer: se alguém pudesse comer a fruta ou a iguaria, ficaria saciado? “Ficaria, sim; mas, não procures tanto para achar o que é tão fácil de compreender. Um raio de sol basta para tornar perceptíveis aos vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço onde viveis. Não sabes que o ar contém vapores dágua? Condensa-os e os farás voltar ao estado normal. Priva-as de calor e eis que essas moléculas impalpáveis e invisíveis se tornarão um corpo sólido e bem sólido, e, assim, muitas outras substâncias de que os químicos tirarão maravilhas ainda mais espantosas. Simplesmente, o Espírito dispõe de instrumentos mais perfeitos do que os vossos: a vontade e a permissão de Deus.”

– 14ª Os objetos que, pela vontade do Espírito, se tornam tangíveis, poderiam permanecer com esse caráter e tornarem-se de uso? “Isso poderia dar-se, mas não se faz. Está fora das leis.”

– 15ª Têm todos os Espíritos, no mesmo grau, o poder de produzir objetos tangíveis? “É fora de dúvida que quanto mais elevado é o Espírito, tanto mais facilmente o consegue. Porém, ainda aqui, tudo depende das circunstâncias. Desse poder também podem dispor os Espíritos inferiores.”

Ora, a resposta acima esclarece, definitivamente, como os lugares, cidades, objetos, alimentos, mobiliários e outras coisas da vida no Mundo Espiritual, podem ser feitos pelos próprios espíritos. Se os espíritos podem agir livremente sobre a vida material, dessa forma (sugerimos ler todo o Cap. VIII de O Livro dos Médiuns), imagine o que podem fazer com os fluidos no Mundo Espiritual. Isso lança por terra as objeções à semelhança entre os ambientes espirituais e materiais da vida dos humanos encarnados e desencarnados.

Costuma-se afirmar que antes de Chico Xavier não havia citações ou descrições de lugares e moradas no Mundo Espiritual, mas há sim. Vamos relembrar apenas uma delas, originada em um Sacerdote Anglicano, Vale Owen, pela importância de não ser Espírita. As descrições da vida após a morte psicografadas pelo Médium Chico Xavier e pelo Sacerdote Anglicano Vale Owen apresentam tal similaridade que praticamente se confirmam. Na Revista Planeta – ed. 127-A – de fevereiro de 1983, consta artigo completo sobre a obra de Vale Owen comparada com a de Chico Xavier:

“No ano de 1919, Lorde Northcliffe, proprietário de uma cadeia de jornais londrinos, tomou conhecimento de uma obra que narrava fatos sobre a vida após a morte, psicografada por um sacerdote da Igreja Anglicana, o reverendo G. Vale Owen, pároco de Oxford, Lancashire. A originalidade dos conceitos interessou Northcliffe a tal ponto que ele pediu (e obteve) permissão para publicar a obra, de forma seriada, no “Weekly Despatch”. Assim, ela apareceria nesse semanário durante os anos de 1920 e 1921, apesar dos protestos de pessoas ligadas à Igreja, inconformadas porque os ensinamentos contidos nas mensagens não condiziam com os cânones anglicanos.”

Tais obras com suas descrições são de 1919, anteriores à obra Nosso Lar, de Chico Xavier. Importante destacar que nem Chico Xavier, nem Vale Owen aceitaram qualquer soma em dinheiro pela publicação de seus trabalhos. A alegação de ambos foi de que as obras eram de autoria dos espíritos que as ditavam.

Continua o artigo da Revista Planeta ed. 127/83:

Tanto Owen como Chico Xavier psicografaram narrativas progressivas a respeito da vida após a morte, descrevendo seus habitantes, os lugares onde vivem, seus meios de locomoção, etc. No caso de Chico Xavier, grande parte desses relatos está abrangida na série Nosso Lar, cujo autor espiritual, que assina sob o pseudônimo André Luiz, foi, quando encarnado, um médico brasileiro. Já em relação ao reverendo Owen, as mensagens sobre esse assunto se encontram na obra The Life Beyond the Veil (“A Vida Além do Véu”, cuja edição em português está esgotada), subdividida em cinco volumes: The Lowlands of Heaven (“A Parte Baixa do Céu”); The Highlands of Heaven (“A Parte Alta do Céu”); The Ministry of Heaven (“O Ministério do Céu”); The Batallions of Heaven (“Os Batalhões do Céu”); e The Outlands of Heaven (“A Parte Exterior do Céu”).”

“Owen também descreve cidades, casas, escolas, templos, colinas, montes, bosques, rios e lagos. Fala ainda de volitação e de meios de transporte como carruagens puxadas por cavalos guiados pelo pensamento, e não por rédeas. Ele também se refere a um céu azul-anil e à música instrumental vinda de um templo ou própria do ambiente – detalhes que não faltam nos livros de Chico Xavier.”

As semelhanças entre as obras de Vale Owen (1919) e Chico Xavier são muitas e recomendamos aos amigos leitores, posteriormente, consultar as obras psicografas pelo Sacerdote Anglicano, anteriores às da série André Luiz.

6. Considerações finais

As reflexões aqui levantadas tiveram a finalidade de contribuir com as indagações dos estudiosos da doutrina espírita diante da grande complexidade que envolve a vida espiritual, com a ampliação do leque de conexões entre a obra de André Luiz deixada pelo médium Chico Xavier e os ensinamentos espíritas codificados por Allan Kardec.

O assunto não se esgota aqui, tendo em vista a vasta complexidade da vida, envolvendo os mundos materiais, como o nosso, e o mundo espiritual. Entretanto, sempre haverá uma limitação ao nosso entendimento, devido a própria natureza do Espírito encarnado sob os desígnios de Deus.

Falhas e equívocos podem ser considerados normais, diante de tal complexidade, principalmente envolvendo o fanatismo religioso e a inferioridade do Espírito encarnado na Terra e, também daqueles desencarnados que, embora tendo a visão ampliada pelo estado livre da matéria, tem tão pouca evolução que são capazes de confundir ideias, tanto por má ou boa fé. Para tanto, recomenda-se sempre os conselhos de Kardec ao tratar a questão da identificação dos Espíritos: “conhece-se a árvore pelos seus bons frutos”.

A complexidade deve ser acompanhada por informações novas e avançadas, geradas pela ciência tanto material quanto espiritual, porém a doutrina espírita em seus princípios básicos sempre estará a um passo à frente e se adequando a Verdade. É evidente que isso não deve ser justificativa para introdução de conceitos e regras utópicos e mirabolantes, que não são capazes de passar pelo crivo da razão daqueles que procuram conhecimentos da vida com seriedade, dedicação e humildade.

A metodologia empregada por Allan Kardec na codificação espírita com o Controle Universal dos Espíritos é a mais eficiente forma de analisar e comparar as informações recebidas do mundo espiritual em busca da realidade. E Chico Xavier não é o único médium que media a temática da vida dos espíritos na erraticidade, entretanto, a maneira com que a informação foi obtida, bem como a credibilidade do médium são fatores relevantes.

Nesse caso, o exemplar trabalho executado pelo médium Chico Xavier é um referencial que não pode ficar de fora de qualquer estudo sobre o tema. A capacidade orgânica da sua mediunidade foi extraordinária, com a clarividência e clariaudiência desde menino; de efeitos físicos com materialização, modificação do ambiente com cheiros perfumados, transporte e bicorporeidade, entre tantos relatos. O mais importante de tudo foi a sua dedicação e humildade desinteressadas e amor ao próximo durante toda a sua reencarnação. Esse é o motivo essencial pela Espiritualidade Maior na afinidade e interação mediúnica. Nem por isso, Chico deixa de ser um homem comum, ou melhor, um Espírito a caminho da perfeição. Longe do que muitos críticos insinuam de que ele seria um homem “endeusado”.

Finalmente, pode-se notar que os Espíritos de André Luiz e Emmanuel também estão em evolução, mas pelas suas ações e textos, estão em níveis elevados de compreensão da vida, passaram por intensos sofrimentos físicos e morais adquirindo percepção diferenciada da experiência do Espírito, no corpo e no Mundo Espiritual, demonstrando elevada intelectualidade e traços morais. As suas obras merecem o respeito junto aos estudos da doutrina espírita em busca da Verdade da vida. Só o futuro, com a Lei do Progresso, está reservado o vislumbrar da vida universal, ainda muito limitada para nós.

Caberá à Ciência Humana, por um lado, e às revelações dos espíritos, por outro, avançar na compreensão desse tema, cada dia mais descortinado aos nossos olhos.

4 Comments

  1. RUBENS CARLOS REAL.

    Temos ainda muito que aprender sobre essa maravilhosa doutrina e talvez, quem sabe, um dia se incorpore à nossa ciência tão pouca esclarecedora em religião e espiritualidade. Seria um significativo avanço no nosso parco conhecimento a respeito da vida pós-morte. Vamos aguardar os acontecimentos futuros.

  2. Windson

    Boa matéria para ser divulgada.

    Como será maravilhoso quando tivermos de maneira franca a compreensão no ponto de vista científico da prova da imortalidade.
    É Consolador demais saber que os nossos entes queridos vivem.
    “Mais forte do que morte só existe uma coisa- saber que continua vivo” Chico Xavier

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