O cristianismo que nos é apresentado pelas diversas religiões, crenças, seitas e crendices possui tantas disparidades de interpretações que, com certeza, não estão falando do mesmo cristianismo, aquele originário dos ensinamentos e exemplos de Jesus de Nazaré.
Para alguns, Jesus é filho de Deus, o que leva presumir que tem também mãe, sendo ele mesmo, um deus. Isso mais confunde que esclarece. Para outros, o Jesus histórico se resume àquele profeta, ou messias, contemporâneo de outros profetas e de revolucionários como Barrabás (Joshua bar Aba). Há politeísmo nessa visão, ou no mínimo monolatria, isto é, a supremacia de um deus sobre outros deuses e semideuses.
Outros se limitam a Joshua ben Joseph (Jesus, filho de José), carpinteiro filho de outro carpinteiro, cuja mãe se chamava Maria (ou Míriam), que tinha irmãos e irmãs consanguíneos (Marcos; 6-3). Para as ortodoxias ainda em vigor, isso consiste uma visão herética, já que para certos segmentos, Jesus é unigênito (o único gerado) e filho de uma virgem.
Eis que a confusão fica estabelecida quando se tenta, lá pelo século IV, quando da criação da Igreja Romana (Concílio de Nicéia, em 325), trazê-lo (Jesus de Nazaré) como sucedâneo dos deuses tidos como pagãos. Fato que tentava atrair para a nova crença os seguidores de outras religiões mais antigas. Jesus seria a versão latina do deus egípcio Horus ?
Com o passar dos séculos, pesquisadores procuravam apontar a data correta do nascimento de Jesus.Tarefa difícil já que os calendários usados naqueles tempos variavam conforme os povos. Convencionou-se o 25 de dezembro, segundo o calendário juliano.
Hoje, Jesus de Nazaré não se reconheceria nos cristãos da atualidade. Seus ensinos e exemplos foram esquecidos ou deturpados. Seu nome mais parece uma logomarca, e ele é – na prática – um ilustre esquecido no dia convencionado para a celebração de seu aniversário natalício e consequente reunião da família e troca de presentes, em memória dos poucos presentes que ganhou ao nascer , segundo reza a tradição.
Fato é que o ensinamento original de Jesus se perdeu em meio aos interesses humanos e mundanos.Quem pregou a paz, a simplicidade, a compaixão e a humildade estranharia a ostentação dos templos erguidos em seu nome. E ainda as muitas guerras originárias de interpretações parciais, tendenciosas ou claramente deturpadas para atender a interesses mesquinhos de pseudo-religiosos e falsos profetas, aos quais ele próprio se refere, conforme foi recolhido por Mateus, e descrito no capítulo 24 de seu Evangelho.
O Sermão do Monte e sua síntese doutrinária (Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo) talvez sejam pálidos reflexos de seu pensamento original. O resto corre por conta dos seus interpretadores.Com a aproximação de mais um Natal comercial, que usa e abusa do nome de Jesus de Nazaré para vender produtos sem preocupações de fé, talvez seja hora de uma pausa para refletir por onde estamos indo ou onde nos perdemos da rota verdadeira.
Paulo R. Santos